20 janeiro 2009

Éder em entrevista a O Jogo







Éder em entrevista a O Jogo "Mais tarde ou mais cedo, o golo vai aparecer Sempre quis ser futebolista e por isso não perdia uma oportunidade de jogar à bola, partindo até alguns vidros. Nada que nunca tenha sucedido com outros craques. O que separa Éder de outros casos de sucesso é o recreio, já que o avançado da Académica acumulou horas de "futeboladas" no Lar Girassol, estabelecimento nos arredores de Coimbra destinado a crianças cujos pais se viram perante a difícil decisão de entregar os filhos perante a incapacidade de os criar. Éder chegou a Coimbra aos oito anos, deixando em Lisboa a restante família. Hoje, é profissional, mas sem antes ter ultrapassado mais um par de dificuldades, como as colocadas diante de si pelo facto de ser guineense. Hoje é português, titular da Académica e uma boa história.

Do girassol até um lugar ao sol

Dentro do relvado ainda é uma "cara nova" que tenta conquistar o seu espaço de afirmação. Mas fora do campo é uma fonte de inspiração para muitos, sobretudo para os jovens que residem no Lar Girassol. Foi lá que Éder, durante dez anos, viveu e se fez homem, tendo ganho a admiração de todos que com ele conviveram. "Já era e continua a ser um modelo para os miúdos. Ainda para mais agora, que se tornou jogador de futebol profissional", explica Alexandra Lino. A assistente social do estabelecimento situado nos arredores da cidade do Mondego já conheceu Éder numa fase mais crescida (tinha 14 anos), mas o tempo foi suficiente para dizer que se trata de "um miúdo pacato e que não criava quaisquer problemas". Mas não era essa a faceta que mais impressionava Alexandra Lino. É que o rapaz "humilde" e que "soube ultrapassar as adversidades" foi sempre um auxílio para todos os funcionários na hora de resolver problemas com algum dos jovens residentes. "É um líder à sua maneira", caracteriza.

No estabelecimento para crianças com dificuldades familiares, onde chegou com oito anos - deixando a restante família em Lisboa - Éder também conheceu Filipe Domingues. Aquele que foi o seu monitor não poupa elogios ao carácter do dianteiro dos estudantes: "Conheço-o desde os 17 anos e não mudou nada na maneira de ser. É pacato, humilde, honesto, trabalhador e lutador. Que continue igual a ele próprio."

Rosa Vieira será, sem dúvida, a pessoa que melhor conhece Éder. Desde pequeno que o viu crescer e os seus olhos brilham quando hoje fala do "21" dos estudantes. "Ele gosta muito de nós e nós dele. Às vezes faz-nos falta, porque era um dos que impunham mais respeito", desabafa a funcionária do lar que recorda a grande vontade de jogar futebol que o ex-residente tinha. Percebe-se hoje que fez bem em insistir.

E, apesar de agora estar sob os holofotes da fama, o avançado que a Briosa foi buscar ao Tourizense não esquece os amigos que deixou no Lar Girassol e sempre que pode não perde a oportunidade de fazer uma visita, como testemunhou a reportagem de O JOGO. "Foi muito bom viver aqui. Fiz muitos amigos e aprendi muitas coisas. Para além disso, ganhei responsabilidade e maturidade. Tenho muito orgulho em ter crescido neste colégio. Foi espectacular ter estado envolvido num ambiente fantástico como este", sublinhou.

Fez-se jogador a partir vidros

Há miúdos que em tenra idade sonham ser bombeiros, polícias, médicos ou mesmo astronautas. Mas Éder não. Desde pequeno que "sempre quis ser futebolista" e esse desejo ajuda a explicar o facto de ter passado grande parte do tempo no Lar Girassol a jogar à bola. "Chegava da escola e ia jogar futebol. Cheguei mesmo a partir alguns vidros. Eu e os meus amigos éramos fanáticos por futebol", recorda com nostalgia. Hoje, a vontade de jogar mantém-se, mas fora das quatro linhas define-se como "muito tranquilo" e "caseiro". E como a vida de futebolista não dura toda a vida, Éder não esconde que "gostava de concluir o 12º ano". "Era importante. Não se sabe o dia de amanhã. Ainda por cima estou num clube onde incentivam a estudar", acrescentou.

Outro dos objectivos passa por "ajudar a família", até porque a mãe foi sempre um importante apoio: "Deu-me tudo quando era mais novo. Agora vou ser eu a tentar retribuir tudo o que puder."


O amigo José Carlos


São alguns os amigos que Éder deixou no Lar Girassol. Um deles é José Carlos, também ele jogador, mas da equipa júnior do Adémia. O médio de 18 anos está surpreendido com a rápida ascensão do companheiro - "Esperava que ele ficasse mais na reserva, mas já é titular. Fico muito contente", disse a propósito -, só tem pena que "ele não tenha marcado ao Sporting", refere o adepto do FC Porto.

"Ele não mudou em nada. Vem visitar-nos sempre que pode", realça José Carlos que não poupa elogios ao amigo: "Ajuda sempre que pode os outros. Ele incentiva-nos a melhorar, mas para que coloquemos sempre os estudos em primeiro". Na vertente desportiva, José Carlos não tem dúvidas: "Gostava de ser como ele". A Académica que esteja atenta.


Éder ou Ederzito

É carinhosamente tratado pelos colegas do plantel por Adebayor, face às semelhanças físicas com o avançado togolês do Arsenal. De resto, um dos ídolos do jogador estudantil, conforme o próprio assumiu durante o estágio de pré-temporada em Celorico da Beira. De qualquer modo, Éder não quer ser reconhecido como Adebayor, antes prefere ser tratado por "Éder ou Ederzito, até porque já há muitos Éder".

Quanto à carreira da equipa entende que "podia estar a correr melhor", embora a Académica esteja agora a "praticar um melhor futebol, mais apoiado, com mais entreajuda. Estamos muito motivados", garante o dianteiro que é totalmente a favor da ligação entre a Briosa e o Tourizense.

Rejeitado por ser estrangeiro

Actualmente entre as escolhas principais de Domingos Paciência, a história desportiva de Éder é curiosa, sobretudo porque, enquanto mais jovem, chegou a ser-lhe negada a possibilidade de jogar na Académica. "É verdade, que, quando tinha idade de juvenil e de júnior, fui lá duas vezes à experiência, mas tive sempre um entrave que era o facto de ser estrangeiro. Ainda por cima a vaga de estrangeiro estava sempre ocupada por um jogador que era do Benfica ou do Sporting e isso complicou sempre", explica. De qualquer modo, esse é um problema já resolvido. Isto porque para além de já ter chegado à Briosa, também já é cidadão português, o que lhe abre as portas da Selecção, embora não pense muito nisso.

Assim sendo, as camadas jovens foram feitas no Adémia - clube dos distritais da Associação de Futebol de Coimbra -, até que, aos 18 anos, foi contratado pelo Tourizense. Mas a primeira temporada não correu de feição, uma vez que terminou o ano emprestado ao Oliveira do Hospital. No ano passado o panorama alterou-se e o ponta-de-lança foi escolha frequente no emblema que milita na II Divisão, até que surgiu a possibilidade de ingressar na Briosa.

"Fiquei contente em vir para a Académica. Era um sonho que felizmente concretizei. Está a ser uma experiência muito boa, ainda por cima estou a começar a jogar. Não contava ter uma ascensão tão rápida", assume o jovem futebolista. Todavia, não há dúvida de que os dirigentes academistas depositam muitas esperanças em Éder, de tal modo que já renovou o vínculo contratual até 2012.

Dá muito jeito ter um treinador-goleador

Éder é avançado e é dos poucos que pode gabar-se de ter como treinador um antigo futebolista, que não só era ponta-de-lança, como ainda por cima teve uma carreira brilhante. Portanto, melhor do que ninguém, Domingos Paciência pode dar óptimos ensinamentos ao pupilo para que na hora de finalizar acerte muitas vezes na baliza. "É importante a nossa relação. Ele transmite-nos muita confiança e a mim, particularmente, tem-me ajudado muito. Fazemos muitos treinos de finalização, em que ele nos corrige bastante. Dá-nos várias dicas", sublinha o jogador que ainda procura o primeiro golo no escalão principal do futebol português: "Não encontro nenhuma razão para ainda não ter marcado. Tenho de ter mais calma e confiança, embora também me tenha faltado um pouco de sorte. Estou convencido que, mais tarde ou mais cedo, vai aparecer".

A ganhar "calo" na alta-roda do futebol, Éder elege o embate com o Sporting como a melhor recordação e recorda a exibição de Boris Peskovic.

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